segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Moradores que sofrem com seca na PB celebram missa para pedir chuva



Na cidade de Triunfo, agricultora diz que está sem água há um mês. 15 cidades e nove distritos passam por racionamento de água.

Nem os santos têm resolvidos os problemas dos sertanejos (Foto: Taiguara Rangel/G1)
Nem os santos têm resolvido o problema da falta de água dos sertanejos (Foto: Taiguara Rangel/G1)
 
A aposentada Maria Rosendo de Andrade, 77 anos, é uma das paraibanas que sobrevivem ao colapso no abastecimento de água no município de Triunfo, Alto Sertão, há pelo menos um mês e meio. O racionamento de água é uma realidade que atinge, segundo a Companhia de Água e Esgotos (Cagepa), 15 cidades e nove distritos na Paraíba nas regiões do Brejo, Curimataú e Sertão, levando agricultores a celebrarem uma missa pela chuva.

“Essa falta de água já acontece desde outubro. Não sai nada na torneira, só temos para consumir o pouco que ainda resta na caixa d'água e no poço. A gente tem que esperar, porque o açude também não tem mais água”, afirmou, em referência ao reservatório da Gamela, que está abaixo de 10% da sua capacidade.


O G1 viajou 1,5 mil quilômetros cortando o interior da Paraíba, percorreu 7 cidades e mostra, nesta quinta-feira (29), o sofrimento de paraibanos que enfrentam uma das piores secas dos últimos 30 anos.
Nem os maiores açudes, como o da Gamela, têm resistido à seca deste ano (Foto: Taiguara Rangel/G1) 
O açude Gamela abastece mais de nove mil habitantes e não resistiu à seca (Foto: Taiguara Rangel/G1)

Praticamente todos os nove mil triunfenses da cidade e zona rural se revezam na busca por água no Poço José Simão, construído pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) no final da década de 80. O vidraceiro Odílio Nunes Torres, de 42, diz que a água serve para o consumo de quase toda a população.

“Água não é muito boa, mas a gente usa para tudo. Não chega a ser imprópria para beber, mas a gente tem que beber, porque está faltando para todo mundo. É o único lugar que dá para buscar água aqui na região”, disse conformado.

De acordo com a Aesa-PB, as regiões do Cariri, Curimataú e Sertão do estado são as mais castigadas pela estiagem. As chuvas registradas de fevereiro a maio foram 62% abaixo da média histórica. “Entre fevereiro e maio, a análise constatou que o Alto Sertão ficou 48,6% abaixo da média, o Cariri/Curimataú ficou 78,9% abaixo e o Sertão com 58,7% inferior ao índice histórico”, afirmou a meteorologista Marle Bandeira.

 "Clamamos pela ajuda de Deus", diz o padre Djacy Brasileiro (Foto: Taiguara Rangel/G1)

Na tentativa de amenizar a angústia da escassez de água, os sertanejos oram pela chuva. Uma missa a céu aberto realizada no sítio Tabuleiro, zona rural de Pedra Branca, foi proclamada pelo padre Djacy Brasileiro. “Não queremos paliativos, queremos solução. Clamamos nessa missa pela ajuda de Deus e protestamos pela ajuda do Governo. É um cenário devastador de morte, não podemos mais ficar calados”, proferiu o padre.

Apesar da pouca água, mesmo em meio à lama e ao solo ressecado, o agricultor Antônio Farias Alves, de 44 anos, vai ao açude da Gamela pescar. “O importante é que tem alguns peixes ainda. Melhor pegar logo. Venho quase todo dia, porque logo eles vão morrer todos. Aqui só tem lama e é melhor pescar para a gente comer alguma coisa do que deixar eles morrerem assim”, disse.

'Melhor pescar para a gente comer do que deixar os peixes morrerem assim" (Foto: Taiguara Rangel/G1)

No açude Sítio Novo, zona rural de Conceição, os irmãos Natália e Joel Araújo Campos buscam água todos os dias em um açude quase seco. Natália, de 10 anos, explica que a viagem é longa. “Viajamos a pé, com os burros carregando a água no tonel. São 30 minutos andando, duas viagens por dia. É água para a gente e o gado, só tem esse açude para todo mundo na região”, disse. Joel, oito anos, reclama do desgaste. “Não tem tempo de brincar, tenho que estudar e acordo cedo para ajudar a buscar água”, afirma.
Segundo o secretário de Infraestrutura do Estado, Efraim Morais, além dos R$ 10 milhões que foram enviados este ano pelo Ministério da Integração para a operação carro-pipa, foi apresentada uma nova proposta em outubro solicitando mais R$ 34 milhões, para dar continuidade ao programa por mais 180 dias. De acordo com a Defesa Civil estadual, 250 carros-pipa estão contratados pelo Governo da Paraíba para abastecer 102 cidades que sofrem com a falta de água.

Irmãos contam que são duas viagens por dia de 30 minutos para buscar água (Foto: Taiguara Rangel/G1) 
Irmãos contam que são duas viagens por dia de 30 minutos para buscar água (Foto: Taiguara Rangel/G1)


Maior açude está secando e transposição está parada

Paradoxalmente ao cenário da seca enfrentada pelos paraibanos, o maior reservatório de água doce da Paraíba está com 45,4% de sua capacidade. O volume diminui diariamente, pois uma das três comportas permanece aberta com objetivo de abastecer a região de Igarassu, no Rio Grande do Norte. Segundo a população, a situação está assim no açude de Coremas há pelo menos 10 meses, 24 horas por dia.

Manancial abastece 10 cidades no Sertão paraibano
e é o 5º maior do NE (Foto: Taiguara Rangel/G1)
Crianças aproveitam para tomar banho na área proibida de evasão da água. O manancial abastece 10 cidades no Sertão paraibano e é o quinto maior do Nordeste. Segundo o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), as comportas estão abertas há pouco mais de um mês. “Foi uma ordem da superintendência nacional, estamos apenas cumprindo. Estamos preocupados porque vai secar o açude desse jeito, não concordo com isso”, explicou o chefe do Dnocs em Coremas, Luis Paulo de Souza.

A liberação de água para abastecimento em terras potiguares foi definida pela gestão do Comitê de Bacias Hidrográficas em reunião do Dnocs. Segundo a assessoria técnica da direção geral do órgão, apenas se chegar a 20% de sua capacidade é que o açude de Coremas terá suas comportas totalmente fechadas.

“Existe uma reunião mensal que decide isso. Estamos em estado de alerta, temos expectativa de chuva em janeiro mas precisamos nos prevenir. Não sabemos até quando as comportas ficam abertas, desde que não chegue a 20% e comprometa a segurança do reservatório. O abastecimento do Rio Grande do Norte está se dando em caráter de emergência para abastecimento humano, porque o açude faz parte do sistema da bacia Piranhas-Assu. Enquanto não houver a transposição do rio São Francisco, é tudo que podemos fazer, porque o fenômeno da seca é cíclico”, explicou a assessora do Dnocs, Robeísia Holanda.

Transposição parada

Contrastando com a urgência pelos que sofrem com a seca, as obras de transposição do rio São Francisco continuam paralisadas na Paraíba. Segundo um dos engenheiros responsáveis, apenas três lotes da obra estão em andamento. A previsão de conclusão inicial para junho de 2010 foi adiada para o segundo semestre de 2015, segundo o Ministério da Integração Nacional.

O Eixo Norte, acessível através de São José de Piranhas, no Sertão, está com apenas três lotes em andamento, os de número 1, 8 e 14. A conclusão está prevista para 2015. De acordo com um engenheiro responsável pelo lote 14, o túnel para abastecimento hídrico segue em andamento, mas o lote 7 está com obras paralisadas desde junho. “Todo o Eixo Norte está atualmente com 60% do andamento concluído, mas estão sendo levadas adiante apenas as obras de três lotes”, relatou o engenheiro Fernando Oliveira.

Maior túnel de abastecimento hídrico na América Latina está com obras paradas desde junho (Foto: Taiguara Rangel/G1) 
Lote no eixo norte de abastecimento hídrico está com obras paradas desde junho (Foto: Taiguara Rangel/G1)

Fonte: Taiguara Rangel/G1 PB

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