terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Os Deserdados da Chuva

Áurea Cristina Barros



Assim os sertanejos tem se sentido nesses últimos tempos, deserdados, esquecidos e
desrespeitados. Sabemos que o sertão e a caatinga, nosso bioma, é carente de chuvas e não
é culpa de ninguém, muito menos de Deus. O que pedimos é tão somente uma atitude dos
nossos governantes, que são eleitos, alguns com uma maioria estrondosa aqui no Nordeste,
como foi Lula, e também Dilma. Esse problema vem desde os tempos do Império, do reinado
de Pedro II, que ao visitar o Nordeste e conhecer de perto o flagelo da seca, anunciou que
“gastaria até a última jóia da sua coroa” para acabar com a seca. Ficou só no discurso. De lá
pra cá, pouco se fez. A dor do sertanejo pobre, seu sofrimento, a vida Severina, a tragédia de
vidas destruídas, nada disso tem sido prioridade.

A ideia da transposição do São Francisco, que recentemente muitos usaram isso para fins
eleitorais, prometendo fazer, começando e não terminando, como é o caso agora. Tudo
parado. Enquanto isso, o gado morre, o sertanejo sofre e muitas vezes tira da sua boca para
dar aos animais. As plantações perdidas, animais mortos de fome e sede pelas estradas,
famílias e mais famílias sem ter o que comer e mendigando por alguns poucos litros d’água
que chegam de tempos em tempos nos carros pipa. Isso quando tem carro pipa. Dezenas
de milhares de homens e mulheres migram para as cidades médias e grandes centros para
fugir do flagelo da seca. Sonhos são destruídos. Famílias são desestruturadas. Só resta a terra
abandonada, virando deserto.

Euclides da Cunha, em seu clássico Os Sertões, disse uma frase que eu considero uma das
maiores verdades já ditas: “O sertanejo é antes de tudo, um forte.” E somos. Somos um povo
resistente e resiliente, que conseguimos fazer das adversidades o combustível para uma vida
de lutas. Agora estamos precisando de ajuda, pois esta seca devastadora em 40 anos não se
via, e é quase a minha idade. Vi sim, o sertão seco, épocas sem chuva e também vi enchentes,
o rio Piancó transbordando e hoje ele está seco, como nunca o tinha visto. É urgente uma
atitude por parte dos detentores do poder.

Chega de blá -blá -blá. Queremos poços, queremos estrutura para sobreviver às intempéries
da Natureza. Creio firmemente que essa devastação toda é uma resposta da Natureza pela
ação do homem, que não respeita a Mãe Terra. Israel é um deserto, e com inteligência,
teoria e especialmente a prática, exporta frutas, ninguém tem sede em Israel. Portanto, tudo
se resume em ter vontade e fazer com que essa vontade seja realidade. Quando se quer
fazer alguma coisa, se encontra um meio. Sabemos que nunca iremos acabar com a seca do
Nordeste, pois ela é um fenômeno natural e cíclico. O que precisamos é aprender a conviver
com ela: armazenar as águas das chuvas para os períodos de estiagem, preservar a fauna e a
flora da caatinga, recuperar as áreas degradadas, reflorestar as matas ciliares, morros e cumes
de serras. Enfim, respeitar os limites impostos pela Natureza em busca da sustentabilidade e
da convivência do homem com a caatinga.

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