O dia 09 de fevereiro marca, em Piancó, um importante acontecimento. A passagem da Coluna Prestes pelas nossas terras sertanejas, passagem essa marcada por luta, sangue e morte.
Na manhã do dia 09 de fevereiro de 1926, dando seguimento a sua Marcha pelo sertão paraibano, a Coluna Prestes, movimento tenentista liderado por Luís Carlos Prestes, passava pela pequena cidade de Piancó, uma pequena cidade como qualquer outra, marcada por disputas políticas locais, tão freqüentes naqueles tempos de República Oligárquica e que perduram até hoje.
Ao entrar em Piancó a Coluna foi logo recebida com hostilidade pela polícia local, cerca de 60 homens, mal armados e sem ter a mínima idéia do potencial bélico e estratégico da Coluna e comandados pelo então delegado Arruda. Nessa primeira batalha, que se deu na entrada da cidade, O Sargento Laudelino, um membro querido e importante que acompanhava a Coluna desde o Rio Grande do Sul, fora atingido mortalmente, o que provocou a fúria dos “revoltosos” que antes de entrar em qualquer cidade sempre tomava o cuidado de primeiro reconhecer o local e assim evitar confrontos. Quando se viu toda a força da Coluna à polícia local debandou, pois não teriam a mínima chance de vitória contra os tenentes.
O PE. Aristides Ferreira da Cruz, chefe político local e deputado estadual também formara um piquete de resistência em sua residência e que também fora logo abafado. O Padre e seus homens acabaram se rendendo e sendo fuzilados pela vanguarda da Coluna.
“Então, a vanguarda veio, atacou a casa lá do padre e acabou com o padre. Isso até hoje se fala como foi (...). Disseram ao padre que se entregasse, mas ele resistia. Num posto de gasolina, perto, pegaram uma lata de querosene jogaram lá, botaram fogo e, aí, o padre se entregou com os homens dele. Em frente à casa do padre tinha uma grande escavação, dessas de tirar terra para fazer reboco de barro, para construção. Aí formaram o padre com os cangaceiros dele e fuzilaram. Quando o Cordeiro soube, já o fato estava consumado. Isso até hoje, na Praíba, se fala. O “Mártir” da reação. Na beira desse buraco, foi fuzilado. Mas havia soldados – depois eu ainda vi – que, quando entravam na cidade e viam o corpo do sargento, iam meter a espada lá na cara do cadáver, lá no olho do padre, de tão indignados que estavam. Sabe o que é a indignação, assim, quando morre um companheiro querido?” *
Segundo Anita Prestes, filha do velho Prestes, a passagem da Coluna Prestes por Piancó figura como uma das batalhas mais importantes da história da Coluna “um dos poucos episódios da marcha da Coluna em que os revolucionários fizeram justiça pelas próprias mãos”
Monumento em homenagem aos Mártires de Piancó - Em total desrespeito e abandono
Conhecida em todo o Brasil por muitos historiadores, a passagem da Coluna Prestes por Piancó também se encontra citada em obras de grandes escritores de nossa literatura com em “O Cavaleiro da Esperança” de Jorge Amado e em “O Tempo e o Vento – O Arquipélago” de Érico Veríssimo.
Atualmente essa data é lembrada em Piancó como feriado municipal, sem maiores consequências. Há um total silêncio de seus marcos históricos, que hoje se encontram totalmente abandonados ou em processo de descaracterização. Há também uma certa omissão das escolas, públicas e privadas, quando, na verdade, deveriam incluir em seus currículos, na disciplina de história, esse fato tão importante.
A meu ver Piancó entrou em um processo, e por que não dizer um Projeto, obscuro de total alienação político-histórica de nossa sociedade. É preciso um movimento urgente de resgate de nossa história, de nossa cultura, de nossos marcos, e não destruí-los, ao falso fascínio de um “avanço” que tem se mostrado completamente vazio. Um povo sem história, sem cultura, sempre será um povo prisioneiro, um povo cativo.
*Depoimento de Luís Carlos Prestes dado à Anita Leocádia Prestes e enviado à historiadora Sonidelania de Souza Carvalho, estudiosa do assunto.
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Postado por Zeca Alves