Primeiro beijo gay em novela da Rede Globo (sem língua)... |
Primeiro beijo gay em novela do SBT(com língua)... |
SÃO PAULO - Saiu, enfim, o tal do beijo gay na novela da Globo.
Não creio que haja muito motivo para comemorar. A TV, como a cavalaria, é
sempre a última a chegar. Se a cena foi veiculada no horário nobre, é
porque a maioria da sociedade já não considera tal ato obsceno ou
escandaloso. Pelo menos não muito.
Vejo com ceticismo, assim, os vaticínios dos que afirmam que o beijo
televisado contribuirá para reduzir a homofobia no país. Tal efeito, se
de fato passa de uma fantasia, apenas soma um grãozinho a um movimento
mais amplo de aceitação que já está em curso há muito tempo e não tem
data para acabar.
Nesse quesito, aliás, nós brasileiros não nos saímos tão mal. Embora
carreguemos a cruz de ter sido o último país ocidental a abolir a
escravidão, estamos entre os primeiros a revogar as leis que puniam o
homossexualismo.
Por aqui, a sodomia deixou de ser um ilícito em 1830, quando o Código
Criminal do Império substituiu as Ordenações Filipinas, que determinavam
que os homossexuais fossem queimados vivos e "feitos per fogo em pó,
para que nunca de seu corpo e sepultura possa haver memoria, e todos os
seus bens sejam confiscados para a Corôa de nossos Reinos".
A título de comparação, nas avançadas Suécia e Inglaterra, a prática só
deixou de ser crime em 1944 e em 1967, respectivamente. Nos EUA, as leis
contra a sodomia só foram plenamente revogadas em 2003 –e por decisão
da Suprema Corte, não dos corpos legislativos estaduais.
Voltando ao beijo, houve, é claro, quem não gostasse. Como em qualquer
distribuição normal, existe uma franja de gente mais conservadora que
ainda chia diante desse tipo de imagem, mas esse é um grupo cuja
importância política e demográfica é decrescente. De todo modo, eles têm
à sua disposição o indefectível controle remoto. Se não gostam do que
veem, são perfeitamente livres para mudar de canal ou até desligar a TV.
Hélio Schwartsman é bacharel em filosofia, publicou 'Aquilae
Titicans - O Segredo de Avicena - Uma Aventura no Afeganistão' em 2001.
Escreve de terça a domingo no Jornal Folha de São Paulo.
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