O Juiz de Direito da Vara da Infância e Juventude da Comarca de João Pessoa, Fabiano Moura de Moura, 44 anos, pediu aposentadoria do cargo que ocupava para, segundo ele, servir a Deus, que é sua vocação. Em uma Carta aos Amigos, postada em seu facebook pessoal, Fabiano mostra as razões que o levaram a tomar a sua decisão.
A Carta impressiona pela maneira serena de se tomar uma decisão importante na vida, mostrando que o poder não vale mais do que uma vocação sacerdotal. Por isso, o Blog do Pádua Leite resolveu também tornar pública essa bela missiva, como forma de que todo internauta faça uma reflexão sobre momentos decisivos em nossas vidas.
Abaixo, transcrevemos a sua Carta aos Amigos:
"Carta Aberta aos Meus Amigos
Tomei uma grande decisão em minha vida. Pedi aposentadoria da condição
de juiz de direito, função que durante anos pude dedicar-me com
responsabilidade e amor.
A recente Lei que diminui o prazo de
contribuição para os deficientes me deu a oportunidade de poder optar
pela aposentadoria. Para os que não sabem, desde que nasci, tenho visão
monocular (CID. 10 H 54-4). Sou cego de um olho, mas enxergo bem pelo
outro. Fiz a opção de não viver lamentando pela visão que não tenho, mas
louvar pela graça de ter um olho que me permite enxergar bem. Hoje,
justamente por essa cegueira, terei o direito de dar à minha vida o rumo
que desejo pelas razões que passo a apresentar:
1- Passei anos
de minha vida na condição de magistrado. Função que honra e dignifica
qualquer pessoa. É uma atividade de muito poder que termina por gerar um
respeito imenso das pessoas com quem esse profissional convive. Foi um
tempo maravilhoso em que pude ajudar a muita gente com minhas decisões e
sentir-me útil na resolução de tantos conflitos.
2- Tive uma
carreira exitosa, com reconhecimento local e vários registros e comendas
nacionais pelos maiores órgãos da justiça brasileira. Saí da
magistratura como o vigésimo nono juiz mais antigo da Paraíba e, tendo
eu apenas 44 anos de idade, tenho a consciência que chegaria ao mais
alto cargo de minha carreira em meu Estado. Tive a graça de ser o juiz
mais novo do Brasil a compor uma corte eleitoral.
3- Contudo,
preferi aposentar-me. Prefiro dar curso à vocação que arde em mim. Quero
mais servir a Deus servindo aos meus irmãos e a uma Igreja viva. É
verdade que, mesmo sendo juiz, pude iniciar uma vida de compromisso com
aqueles que de mim precisaram dentro e fora da magistratura. Mas quero,
distante do poder, ter mais tempo para dedicar-me à escuta e ao trabalho
de evangelização na minha condição de batizado.
4- A nossa
Igreja vive um momento tão bonito de transformação e responsabilidade
com seu povo que padece pela falta de solidariedade e compaixão.
Enquanto eu puder viver a minha condição de batizado, quero oferecer-me
inteiramente à prática do bem, sendo eu imperfeito, sendo Jesus perfeito
em seu amor misericordioso. Ouço a voz do Santo Padre, Papa Francisco,
como um chamado para que todos de seu rebanho vivam a vocação de
serviço sem temor e com todas as ofertas possíveis que cada membro dessa
Igreja tem a colocar no altar. A minha oferta é a minha disponibilidade
de servir a quem de mim precisar. É tudo que tenho. É o que posso
oferecer.
5- Quero estar mais presente em atividades pastorais.
Quero usar o meu potencial para falar para todos, nos mais diversos
meios de comunicação, do amor de um Deus que nunca se esquece de nós.
Quero utilizar meus conhecimentos científicos da Psicologia para atender
em clínica (que pretendo em breve inaugurar), participar mais
ativamente da Fundação Solidariedade ( onde sou Embaixador) e na
Comunidade Eucarística Maná (onde me coloco como servo menor) como forma
de solucionar conflitos humanos e espirituais.
6- Peço as
orações de todos. Agradeço a todos os colegas e amigos de trabalho que
me ajudaram a ser o juiz que pude testemunhar e, de forma especial, a
cada irmão que me faz, a todo instante, crescer para o verdadeiro
sentido da vida.
Renuncio ao poder dos homens para viver na dependência do único poder daquele que me interessa: Jesus Cristo.
Por último, aos meus filhos, Maria Thereza e Matheus, destinatários de
todo meu amor, o meu pedido de compreensão por minha decisão que tem
também o propósito de deixar para vocês um testemunho de que na vida o
que importa não são os valores do poder pelo poder, mas o compromisso
ético em melhor fazer o bem, cada vez mais, para aqueles que de nós
precisarem. Eis a vocação que escolhi.
A todos, o meu carinho e consideração!!!
Pelas mãos de Maria, eis-me aqui, Senhor!!!"
Fabiano Moura de Moura
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